Programa investe cerca de R$12 milhões na recuperação e manutenção de estradas para escoamento agrícola.
Felipe Liedmann, especial para os Blogs do Doc.com e do Johnny.
Ponta Grossa tem mais de 1,2 mil quilômetros de estradas rurais. São ramificações espalhadas por regiões como Guaragi, Uvaia, Taquari, Alagados e Itaiacoca. Cada uma dessas localidades apresenta potenciais para produção rural e podem despertar a cidade quase bicentenária para o turismo rural, tornando-se exemplo dentro do estado.
É com esse olhar que o programa ‘Caminhos do Agro’, que investe R$ 12 milhões na recuperação das estradas de terra, pode potencializar o trabalho rural em Ponta Grossa.
Andressa Seliger Ribas é ponta-grossense e se formou em Zootecnia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Há oito anos foi morar com o marido, Rafael, no Povoado Taboleiro – a 30 quilômetros da região central de PG, perto do limite com o Município de Palmeira.
Há cinco anos, ela resolveu se dedicar ao cultivo e venda de plantas. Na propriedade da família, Andressa mantém um viveiro de suculentas. São as plantas mantidas por ela que são encontradas pela população de Ponta Grossa em tradicionais feiras da cidade.
No entanto, a zootecnista já enfrentou prejuízos causados por más condições das estradas rurais nos últimos anos. “Os principais problemas eram os buracos. Havia pontos em que os veículos encalhavam dependendo do clima. Como eu trabalho com plantas, dava prejuízo no transporte delas até a cidade. Elas viravam no caminho e ficavam machucadas”, relembra.
O Povoado Taboleiro foi um dos primeiros a receber obras do programa ‘Caminhos do Agro’. O maquinário passou a atuar na região nos últimos meses do ano passado.
“Com a chegada de mais materiais e maquinários maiores para refazer essa estrada, a nossa qualidade de vida melhorou. Agora a gente consegue ir para a cidade com mais comodidade, diminuindo o tempo de viagem e evitando prejuízo com os veículos”, relata Andressa, que costuma sair da propriedade pelo menos três vezes por semana para fazer entregas e participar de feiras em Ponta Grossa.
Mas não foi somente o trabalho de Andressa que melhorou com o aprimoramento da estrada. O filho dela sai de casa por volta de 6h da manhã para usar o transporte escolar. O ônibus percorre toda a comunidade pelas estradas de terra.
“Nosso filho leva cerca de 1h15 para chegar na escola e a gente se preocupava com a estrada esburacada. Teve dias de chuva em que ficamos sabendo que o ônibus encalhou até quatro vezes no trajeto. Agora não houve mais encalhamento”, afirma.
TURISMO – A boa condição das estradas rurais também serve para quem faz o trajeto contrário: da cidade para o campo. Especialmente pode alavancar o turismo rural de Ponta Grossa, fazendo com que as pessoas visitem atrativos naturais e paisagens que ficam afastadas da área urbana.
A Estrada do Alagados é um dos exemplos. Ela recebeu reparos no início do ano, mas a manutenção da estrada principal é quase constante em decorrência do clima e do solo da região, composto por lajes de rochas.
Mesmo nas comunidades menores, o turismo pode ser explorado como potencial. Andressa chegou a receber eventos com mais de 130 pessoas no Povoado Taboleiro. Apesar da estrada não estar em boas condições na época, os visitantes se deslocavam até o viveiro para conhecer o trabalho da zootecnista.
“Além da nossa comodidade, o melhor avanço é colocar a gente no mapa de verdade. No mapa turístico, talvez, e no mapa da produção rural”, enfatiza.
PRODUTORES – A economia local também gira por meio da produção agrícola. Saindo da propriedade de Andressa e percorrendo dez quilômetros de estradas rurais, chega-se ao Guaragi. É no tradicional Distrito de Ponta Grossa que o técnico agrícola Daniel Alexandre Vantroba cultiva soja, trigo, cevada e milho.
As plantações da família começaram há mais de quatro décadas com o pai de Daniel, que faleceu durante a pandemia de covid-19. Sem o principal responsável pelo cultivo, coube aos irmãos se reunirem para ‘tocar’ aquilo que o pai havia construído.
Além de se deparar com este desafio, Daniel, que deixou o trabalho anterior em uma fazenda de Palmeira, encarou a estrada rural de Faxinal Grande como um obstáculo para obter os melhores resultados no campo.
“Nós pegamos a pior fase. Foi a época da colheita do milho. Foi uma chuvarada e as estradas estavam péssimas, horríveis. Não tinha como a gente trabalhar e nem os motoristas que eram contratados saírem daqui. Era trator na estrada puxando, era caminhão quebrado, caminhão encalhado. O pessoal do leite se complicou, o pessoal da granja também sofreu bastante”, relembra.
Diante do caos vivenciado, Daniel e os vizinhos receberam uma informação de alívio. “Nós reunimos os produtores da região e fomos até a administração municipal. Foi nessa ida que nos apresentaram o projeto de melhorias das estradas rurais. Limparam as galerias, colocaram mais pedras nas estradas, passaram máquinas pesadas e fizeram roçadas”, cita o técnico agrícola, que guarda fotos no celular da época em que a estrada estava intransitável, prejudicando o escoamento da produção e o melhor aproveitamento dos produtos.
SERVIÇOS – O programa ‘Caminhos do Agro’ contempla serviços de escarificação, patrolamento e compactação das estradas, bem como a colocação de cascalho nos pontos mais críticos. As ações também contemplam a execução e manutenção dos dispositivos de drenagem, como as caixas de contenção, saídas laterais, bueiros e caixas de dissipação.
No mês passado, o programa superou a marca de 280 quilômetros de vias recuperadas. As quatro equipes de trabalho também realizaram a manutenção de pontes de madeira, como já realizado nas pontes do Carazinho, Sete Saltos de Baixo, acesso ao Buraco do Padre e acesso à Copiosa Redenção, em Itaiacoca. Na região do Alagados, a ponte do acesso à Usina do Pitangui e, em Uvaia, a Ponte da Colônia Moema, também foram revitalizadas.
REGIÕES ATENDIDAS – As ações do programa são executadas nas comunidades rurais de Ponta Grossa, abrangendo os distritos de Uvaia, Guaragi, Alagados, Itaiacoca, Taquari, o povoado Taboleiro e a localidade de Ponta do Salto. O ‘Caminhos do Agro’ já alcançou 24 comunidades rurais. Para o próximo ano, a previsão é investir mais R$ 5 milhões nas melhorias das estradas de terra.