12 de setembro de 2019

Professora vai à Câmara e nega conotação religiosa em apresentação de crianças

Divulgação

“Se é algo de uma raiz cultural que nós devemos preservar, não tem nada a ver com religiosidade”, defendeu a professora de Educação Física e coordenadora do projeto ‘Maculelê’, Sônia Massutti, da Escola Municipal Braulina Carneiro de Quadros, do Parque Santa Lúcia, ontem, 11. Após a polêmica das críticas dos vereadores da bancada evangélica, Vinícius Camargo e Pastor Ezequiel recuaram durante a sessão de ontem.

A professora de Educação Física e coordenadora do projeto ‘Maculelê’, Sônia Eliana da Silva Massutti, acompanhada da diretora da Escola Municipal Braulina Carneiro de Quadros, Sirlene de Fátima Rodrigues, localizada no Parque Santa Lúcia, e pais de alunos que participam do projeto, estiveram ontem, 11, na Câmara Municipal, para esclarecer aos vereadores sobre a origem e o propósito da dança.

Na sessão da última segunda-feira, 09, os vereadores Vinicius Camargo (PMB) e Pastor Ezequiel (PRB), integrantes da bancada evangélica da Câmara Municipal, repudiaram a secretária municipal de Educação, Esméria Saveli, por permitir uma apresentação que classificaram como sendo de candomblé, para crianças da rede municipal de ensino, no último final de semana, durante o VII Congresso de Educação, no Parque Ambiental.
Na tribuna, a professora Sônia citou e foi cobrada pelos parlamentares de uma nota de repúdio apresentada pelos vereadores, que nunca existiu, atribuindo falsamente a divulgação pelo Blog do Johnny, quando na verdade somente os vereadores Vinícius e Pastor Ezequiel se manifestaram durante a sessão repudiando a apresentação, em sua opinião, “por interpretar equivocadamente o nosso trabalho, dizendo tratar-se de uma apresentação de candomblé”.

A professora contou que o grupo de dança teve início em 2013 e que o trabalho é embasado nas orientações fornecidas pela “matriz curricular para educação física da escola”. “O nosso trabalho é pesquisado e discutido junto com a equipe gestora. A escolha da música, da coreografia, do figurino, sempre procurando destacar, enaltecer e valorizar as nossas raízes culturais”, afirmou. “Temos também todo o suporte de orientação recebida através de informações que nos proporcionam periodicamente pela Secretaria de Educação, inclusive uma dessas formações, em dezembro de 2018, a gente teve uma formação de Maculelê. Todas as professoras da rede tiveram essa formação. Surgiu daí então a minha ideia de apresentar uma dança na escola representando o Maculelê, uma das nossas raízes africanas-indígena”, revelou, assegurando que o ‘Maculelê’ é uma manifestação cultural. “Se é algo de uma raiz cultural que nós devemos preservar, não tem nada a ver com religiosidade”, defendeu Sônia.

RECUARAM – Após a polêmica das críticas dos vereadores da bancada evangélica, Vinícius Camargo e Pastor Ezequiel recuaram durante a sessão de ontem.

Camargo indagou a professora sobre o nome da música, a qual nominou como “Boa tarde”. Em seguida, na tribuna, o vereador afirmou que a música faz parte da cultura do candomblé e da umbanda. O parlamentar acredita que foi mal interpretado e voltou a defender espaço para expressão de todas as religiões. “Aconteceu esta situação. Vieram até nós, não só falando que teve uma apresentação disso. O problema não é a apresentação, mas a dupla interpretação da secretária. Um peso em um e um peso na outra. A crítica nossa foi a secretária de Educação por ela não aceitar isso. O que a gente busca e prega, é igualdade, pluralidade, equilíbrio, que sejam feitas as coisas no mesmo peso e medida para todos”, esclareceu o vereador, membro da Igreja Cristã Presbiteriana (ICP), afirmando que foi desacatado em contato com a secretária Esméria.

Já Pastor Ezequiel, reiterou que respeita as pessoas e as religiões. “Sou evangélico de berço e não concordo, nem uma situação evangélica, católica, espírita ou seja lá qual for, que seja inserida nas escolas. Porque é isso que nós entendemos do governo municipal”, criticou o vereador-pastor, afirmando que o seu mandato é em defesa das famílias, das crianças e da segurança pública. “Professor não tem que educar filho de ninguém, quem tem que educar são os pais, somos nós. Eu que tenho que ensinar a religião que o meu filho tem que ser. Sou evangélico, vou ensinar ele ser evangélico. Quando ele crescer, vai decidir. Não tenho direito, e ninguém tem, de ficar inserindo”, acredita, relatando que recebeu o contato de pais de alunos sobre a apresentação.

APOIO – A vereadora Professora Rose (PSB) manifestou na tribuna da Câmara Municipal apoio ao projeto. “Diferente da recente polêmica que se instalou a cerca da apresentação de dança na Feira do Livro, é importante destacar que a apresentação do Grupo Arte de Dança da Escola Braulina Quadros não se confunde com uma apresentação de candomblé e não se trata de qualquer tipo de doutrinação religiosa”, disse a vereadora.

O vereador Pietro Arnaud (Rede) protocolou uma Moção de Aplauso ao Grupo de Dança na última terça-feira, 10. “Eu vi a manifestação dos meus colegas parlamentares e foi falado que lamentava-se uma apresentação de candomblé. É preciso se corrigir algo que foi incoerente”, acredita Arnaud.

FORMAÇÃO HUMANA – Segundo divulgou a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Ponta Grossa, nas escolas municipais tendo como parâmetro a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), os professores seguem a orientação da Secretaria Municipal de Educação e buscam enriquecer o aprendizado dos alunos, realizando a integração de diversos componentes curriculares. Um desses temas é o componente curricular Formação Humana/Ensino Religioso – que nada tem a ver com ensinar diretamente sobre cada uma das religiões ou simular diferentes atos religiosos. Em associação com a Educação Física e Artes, por exemplo, temas como o folclore ganham vida por meio de apresentações artísticas como a do Maculelê. Assim, a Secretaria Municipal de Educação trabalha em uma perspectiva de desenvolver uma “Cultura da Paz” junto a professores e alunos, com respeito aos seres humanos que praticam os diferentes tipos de religião, colocando por terra qualquer tipo de preconceito cultural.

NOTA DA REDAÇÃO – O Blog do Johnny, ao contrário do que afirmou a professora Sônia Eliana da Silva Massutti, na Câmara Municipal ontem, esclarece que a imagem utilizada para ilustrar a matéria: Vereadores repudiam apresentação de candomblé para crianças no Congresso Municipal de Educação, não possui nenhuma conotação com a dança dos alunos da Escola Braulina Carneiro de Quadros, mas é uma ilustração às críticas feitas pelos vereadores na sessão da última segunda-feira. O vídeo da apresentação, divulgado pelos vereadores, também foi publicado.


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