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“Permitir de forma passiva a existência de um espaço como a Cracolândia, onde o tráfico de drogas acontece escancaradamente e pessoas de todas as idades – incluindo crianças e grávidas – deixam de lado sua dignidade, abrindo mão de suas vidas apenas para conseguir suprir seus vícios, é inaceitável”
A ação promovida em São Paulo contra o tráfico de drogas na conhecida Cracolândia gerou diversas polêmicas no último mês. A situação chegou ao ponto em que grupos e organizações mais radicais de esquerda fizeram protesto pelo direito de uma pessoa se drogar, ignorando todos os estragos que o vício causa no próprio indivíduo e também para a sociedade.
O discurso desses grupos mistura ideologia e fecha os olhos para a realidade que os dependentes químicos encontram nas Cracolândias, repleta de violência, degradação e sem os requisitos mínimos para a garantia de direitos de uma pessoa.
É impossível visualizar que uma pessoa usufrua de liberdade quando já está submetida ao vício, físico e psicológico, que basicamente a impele a viver em torno de conseguir evitar a abstinência. Considerando os devastadores efeitos de drogas como o crack e a heroína, tanto para o usuário quanto para terceiros, e também o fato que muitos dependentes químicos possuem interesse em se livrar do vício, mas encontram dificuldades para buscarem sozinho o tratamento e desintoxicação, é dever do Estado intervir.
Permitir de forma passiva a existência de um espaço como a Cracolândia, onde o tráfico de drogas acontece escancaradamente e pessoas de todas as idades – incluindo crianças e grávidas – deixam de lado sua dignidade, abrindo mão de suas vidas apenas para conseguir suprir seus vícios, é inaceitável.
Logicamente que todos sabem que uma única ação não irá acabar com esse problema, mas reforça o debate e promove uma necessária atitude em relação ao tema. O combate as drogas é um dos maiores males que o mundo enfrenta e a proliferação de seu uso tem causado danos que afetam não apenas o usuário, mas também a saúde pública, segurança e quebra de vínculos familiares.
Relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) de 2014 estimou que aproximadamente 29 milhões de pessoas que utilizam drogas possuem algum tipo de transtorno devido ao vício. Destes, 1,6 milhão vivem com HIV e outros seis milhões com hepatite C. Já dados do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), apontam que para cada usuário de drogas, mais quatro pessoas são afetadas diretamente, seja de maneira financeira, social ou de saúde.
Ainda que seja utópico buscar um mundo completamente livre das drogas, devemos trabalhar e almejar sempre alcançar essa meta. Para isso ações de repressão devem ser utilizadas quando necessário e precisamos cada vez mais fortalecer os programas sistemáticos de prevenção. Também é necessário ampliar a estrutura e condições de atendimento para o tratamento ambulatorial e de comunidades terapêuticas, bem como estimular parcerias com entidades, igrejas e institutos.
O combate às drogas depende de não sermos permissivos ao tráfico, promovermos constantemente campanhas alertando a população sobre os riscos e efeitos dos produtos psicoativos e, especialmente, oferecendo opções para que o dependente químico encontre o auxílio necessário para livrar-se do vício.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)