13 de janeiro de 2023

Cluster regional mantém mercado da madeira otimista para 2023

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Momento econômico em transição no Brasil, guerra entre Rússia e Ucrânia e alta nos juros Norte-Americanos ainda geram impactos no setor.

A Casa da Indústria de Ponta Grossa, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), oportuniza para o início deste ano, uma série de entrevistas com os presidentes dos Sindicatos Patronais, vinculados ao Sistema, em Ponta Grossa e na região dos Campos Gerais. A primeira fica por conta do presidente do Sindicato das Indústrias de Serrarias, Carpintarias, Tanoarias e Marcenarias de Ponta Grossa (Sindimadeira – PG), Álvaro Scheffer.

O setor da madeira para Ponta Grossa é muito importante, porque é um cluster completo e sustentável, em que se consegue vender de uma floresta, toda floresta. Em virtude disso, gera uma grande quantidade de emprego, pois conta com uma cadeia longa, tendo início na base florestal até a produção final.

A indústria mais básica que seria a serraria, em Ponta Grossa, vende a madeira e o cavaco para indústrias de placas de chapa ou para ser utilizado como combustível para outras empresas, isto é, o cavaco é usado para a produção de MDF ou para a geração de energia da indústria cervejeira, bem como outras que usam o material como biomassa. A casca vai para Holambra para fazer vaso de flor, a serragem pode ser utilizada, por exemplo, para os fornos de cal ou para cama de aves e confinamento de gado ou leiteria, ou ainda, vai para a produção de pallet e energia. Enquanto a madeira fina é usada para a produção do OSB ou de MDF e a tora grossa e a madeira cerrada para laminadoras. Por fim, é um setor que formou um cluster completo e totalmente sustentável, que gera muito emprego.

Como está o cenário do setor madeireiro hoje? Qual são as perspectivas para 2023?

O setor da madeira passou por dois anos muito bons, até o mês de agosto do ano de 2021 e depois o mercado começou a cair. Isto aconteceu tanto no mercado interno, mas principalmente no mercado externo, em virtude da crise da Rússia e o aumento da taxa de juro nos Estados Unidos.

O setor é muito forte na exportação, principalmente na nossa região. As indústrias de placa e de chapa atendem mais focada no mercado interno, mas também no setor moveleiro, que é um grande consumidor, e que começou a ter uma reduzida a partir do segundo semestre de 2022.

E isso tem um pouco a ver com a parte do aumento do endividamento da pessoa física, o que refletiu na redução do consumo de mobiliário. Além disso, teve uma redução também na parte da construção civil. Porém, é na parte da exportação que nós estamos enfrentando uma crise um pouco mais pesada.

O Paraná inteiro tem uma presença bastante grande de exportação de madeira, de compensado e de OSB, para o mercado chinês e americano. A queda na China foi muito grande e o mesmo acontece nos Estados Unidos, agora, que é o principal mercado da região.

Os preços vêm caindo nestes países e isso deve se manter em baixa, eu imagino, no primeiro trimestre deste ano. O mercado deve ter uma recuperação a partir do mês de abril. Já o mercado de papel e celulose ainda segue aquecido, pois conta com um consumo bastante grande de embalagem e exportação, entre outros.

O que gera instabilidade no setor?

As dúvidas dos encaminhamentos políticos efetuado pela nova equipe econômica, do governo federal, vai deixar o mercado letárgico, imagino até o mês de abril. Mês este, que nós esperamos também uma reação no mercado norte-americano, principalmente, que retome de maneira gradativa as compras, dependendo da taxa de juros americana. Tivemos no final do ano passado, o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) subindo mais meio por cento a taxa de juro, sinalizando que pode ir até 5% de juro no mercado americano, isso tende a dar uma esfriada na construção civil americana, que é um grande comprador de madeira, principalmente madeira de pinus, que sai daqui do Brasil.

E o como as indústrias devem se comportar neste momento?

Estamos trabalhando, hoje, focando a indústria madeireira em um trabalho bastante grande junto com o Sesi, para a adequação da NR 12, como também, um trabalho bem forte junto ao Senai na parte de qualificação. Desta forma, utilizamos este momento de baixa do mercado, para preparar mais as indústrias na qualificação da mão-de-obra, considerando que viemos de um período bom, em que as empresas estão tendo condições agora de se ajustar, por possíveis fiscalizações iminentes pela frente.

O que esperar do novo governo federal?

Somos muito mais afetados pelo mercado externo do que pelo mercado interno, então o que que preocupa o setor e preocupa a indústria de um modo geral, é insegurança jurídica. Durante quatro anos, ficamos aguardando uma reforma tributária, que acabou não vindo. Isso gera uma insegurança. Para este novo governo, a primeira sinalização é de que vai acontecer a reforma tributária, tendo a linha do projeto do economista Bernardo Appy. Esta reforma já foi trabalhada, discutida, dentro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com um misto da reforma que estava proposta pelo Senado. A reforma tributária é um fator de dúvida para a indústria de modo geral.

Quanto a investimentos, será que vai mudar a linha de pensamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS)? A instituição terá um protagonismo? Será que esse protagonismo maior vai ter um contraponto entre o aumento da taxa de juro, isto é, da Selic que está vindo no mercado? Será que nós vamos ter de voltar a ter um Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame/BNDS) subsidiado com juro mais baixo? Estes fatores facilitam investimentos.

Se nós olharmos para o passado, foi isso que aconteceu nos governos do PT.

Outro ponto, como será o Programa Minha Casa, Minha Vida? Vamos ter novamente um volume grande de investimento dentro dessa área. Isso pode alterar o mercado. A evolução que imagino que o setor deveria ter, seria com o fortalecimento do ‘Minha Casa, Minha Vida’, com a uma inserção maior de madeira de floresta plantada na construção civil. Tanto na habitação popular, como na habitação de alto padrão, com o uso de madeira colada, de madeira engenheirada, este é o caminho que acredito que o setor pode trilhar.

Essa flutuação de medidas econômicas, vai trazer alguma mudança. Algumas boas, outras ruins. Em virtude disso, temos que aguardar o passar deste início de ano para entender como que vai ser.

O que esperar do governo estadual para o setor da madeira?

O governo estadual não pode atrapalhar, com aumento de imposto, como aconteceu a tentativa no final de 2022, no produto primário. Primeiro que nós já estamos vendo um mercado baixo, um mercado em declínio, isto é, um mercado que estagnou. Estamos, sim, apostando numa recuperação. O que não pode acontecer, é o governo do estado subir a alíquota de imposto, subir ICMS e aumentar a tributação do produto primário.

A infraestrutura é outro problema do governo do estado, com é o caso da rodovia que liga Curitiba ao litoral do Paraná, dando acesso ao Porto de Paranaguá. O que antes um caminhão ia e voltava no mês dia do Porto, chegou a ser gasto no mínimo dois dias. A lentidão na estrada estava tão grande que se perdia e ainda se perde tempo. O acidente que deu na 376, uma carga que ia e voltava no dia de Santa Catarina chegou a levar três dias. Isso foi muito grave para o setor, pois aumenta muito o custo e tira a nossa região da competividade.

Transitar entre Ponta Grossa para Curitiba, é uma aventura. Porque a probabilidade de ter um acidente nessa estrada e não ter um guincho para retirar é muito grande. Podemos dizer que acabou o pedágio, mas aumentou o custo do transporte. Não ter o pedágio, ao invés de reduzir o custo transporte, aumentou.

As estradas vicinais que são estaduais estão complicadas. Mesmo com o problema do excesso de chuvas, as empresas licitadas por vezes não têm estrutura para realmente tocar o projeto contratado. Precisamos que o estado melhore estas fragilidades, pois caso contrário, atrapalha o escoamento da produção.

O que esperar do governo municipal?

Um desafio que nós temos pela indústria, é o Distrito Industrial de Ponta Grossa. Nós precisamos que aquelas ruas, sejam asfaltadas. Isso não pode ser uma promessa do próximo prefeito. As obras que estão acontecendo têm que terminar. Entendo que a indústria precisa de um bom ambiente de trabalho, por isso, não podemos permitir que um ponto forte nosso que é a localização, que prestigia a nossa logística seja prejudicada por uma incapacidade do poder público. O mesmo se aplica em relação as estradas rurais do município.

O que seria o ideal para a atuação da Fiep, neste momento, visando o atendimento à indústria?

A Fiep está com uma postura nova. Particularmente, enxergo a Fiep como uma ferramenta a fortalecer os sindicatos, ocasionando uma comunicação com a Indústria de uma forma mais objetiva. mas principalmente utilizando as duas forças principais do Sistema, que é o Sesi e o Senai. Este novo perfil da Fiep, voltando a dar ao Sesi uma prioridade na saúde e segurança do trabalhador, praticamente elimina futuros passivos trabalhistas que nós poderíamos ter.

Entendo como imprescindível o foco na saúde ocupacional, bem como em preparar as indústrias para as NRs. Isso porque, tivemos uma mudança de governo que pode caracterizar uma fiscalização muito mais rigorosa em ambos os quesitos. Então, cabe a nós industriais estarmos preparados para isso, investindo na saúde do trabalhador e na qualificação dele.

Entendo como muito importante este reposicionamento do Sistema com as carretas que realizam diversos tipos de exames em colaboradores das indústrias, no próprio local de trabalho.

O Senai também tem um papel importante. A instituição está muito disponível para a indústria, basta a indústria acessar, basta a indústria buscar o Senai. Durante a pandemia, aquele o isolamento que teve atrapalhou muito o Sistema, por isso, nós temos que recuperar. Temos dois anos a serem recuperados, principalmente em convivência e em qualificação.

(Com assessoria)


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