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Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa alerta sobre crise econômica na região. Ponta Grossa foi a responsável por mais de 50% dos empregos perdidos dos Campos Gerais em abril (-1.231).
O Brasil está passando por uma das suas maiores crises econômicas em decorrência da Covid-19. Segundo levantamento do Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Nerepp-UEPG), os municípios dos Campos Gerais estão sendo atingidos por dois fatores, de dentro e de fora da região.
O primeiro fator, exógeno, é referente à queda da demanda internacional, com efeito nas exportações, e também com a retração da disponibilidade de alguns bens intermediários importados, os quais são utilizados na produção de bens finais na região. O segundo, endógeno, é referente à queda da demanda local, causada pelo distanciamento social.
Somente no mês de abril de 2020, o Brasil perdeu 860.503 vagas de trabalho, o Paraná, 55.008 e os Campos Gerais, 2.254. “Se analisar os meses que antecederam a crise da Covid-19, janeiro e fevereiro, tanto a região como também o Estado e o país vinham com tendência de crescimento, o que evidencia o caos que a pandemia gerou no mercado de trabalho brasileiro. O ponto positivo é que, na comparação com o Paraná e o Brasil, a região ainda estava com um estoque de emprego em abril superior ao que tinha em janeiro de 2020, cenário diferente do observado no resto do país”, afirma a pesquisadora do Nerepp, professora Augusta Pelinski Raiher.
Ao considerar o saldo obtido entre janeiro a abril de 2020, a região dos Campos Gerais ainda teve crescimento de 0,79% com relação ao estoque de empregos que se tinha no início de 2020, enquanto que o Paraná retraiu em 0,84% e o Brasil, 1,97%. “Da mesma forma, se comparar o saldo obtido entre janeiro e abril de 2019 com os mesmos meses de 2020, tem-se, para este último, um saldo acumulado 39% menor do que o verificado em 2019. Entretanto, na comparação desses meses de 2020 com 2018, tem-se um acumulado um pouco melhor para o ano atual. Tal característica é bem diferente da verificada para o Brasil e para o Paraná, os quais tiveram decrescimento do emprego no acumulado do ano de 2020”, explica Augusta.
Em termos de municípios, todos tiveram quebras de postos de trabalho no mês de abril, o que demonstra efetivamente a chegada da crise na região. Alguns municípios já iniciaram essa queda em março, sendo eles: Arapoti, Piraí do Sul (que desde fevereiro já vinha com saldo negativo), Porto Amazonas, São João do Triunfo, Telêmaco Borba e Tibagi. “Essa retração mais precoce do emprego pode estar relacionada com a queda dos postos de trabalho de empresas ligadas ao mercado externo, que reduz as suas exportações, bem como às empresas ligadas ao setor do turismo, como é o caso de Tibagi”, conta Augusta. De acordo com a pesquisadora do Nerepp, uma atenção especial deve ser dada a esses municípios, por já estarem em um processo de crise do mercado de trabalho antes da maioria dos municípios da região.
Com relação ao mês de abril, Ponta Grossa foi a responsável por mais de 50% dos empregos perdidos dos Campos Gerais (-1231). “O cenário era esperado já que o Município detém quase metade de todos os postos de trabalho da região. Embora seja natural, é preocupante, tendo em vista que Ponta Grossa é o centro da dinâmica econômica dos Campos Gerais, e o seu enfraquecimento representa uma perda de dinamismo para toda a região”, informa a pesquisadora.
Conforme os dados do Nerepp, a análise do acumulado de emprego de 2019, de janeiro a abril, revela que nove municípios tiveram um número de demissão superior ao de contratação neste período, sendo: Telêmaco Borba (-162), Reserva (-96), Piraí do Sul (-77), São João do Triunfo (-43), Porto Amazonas (-26), Castro e Imbaú (ambos com queda de 18), Tibagi (-16) e Curiúva (-14). Ao relacionar esse valor com o estoque de emprego que cada município tinha no início de 2020, percebe-se um decrescimento significativo para alguns desses municípios, como: São João do Triunfo, com uma queda de 6,28% dos empregos que se tinha no início de 2020; Porto Amazonas, com um decrescimento de 3,39% e; Reserva com queda do seu estoque de emprego inicial (2020) de 3,23%. Augusta reforça que no caso especial desses municípios, medidas precisam ser acionadas visando mitigar os efeitos da crise da Covid-19 e evitar a quebra expressiva da sua estrutura produtiva.
Como destaque positivo está o município de Ortigueira, que conseguiu acumular, nesse início de 2020, o equivalente a 23% do seu estoque de emprego inicial, criando mais de mil novos postos de trabalho. Na comparação entre sua dinâmica de 2020 com os mesmos meses de 2019, teve-se um incremento de 826 vagas, demonstrando a aceleração que ocorreu no início de 2020. Nessa mesma situação estão outros quatro municípios que apresentaram um acumulado de janeiro a abril de 2020 positivo e superior ao de 2019: Ipiranga, Ivaí, Palmeira e Ventania. No caso dos demais, boa parte teve um acumulado de janeiro a abril de 2020 inferior ao de 2019.
Para Augusta, o cenário é preocupante na região. “É necessário identificar os setores mais afetados pela crise em cada município, bem como é necessário verificar se as políticas públicas que visam amenizar os problemas na estrutura produtiva estão sendo acessadas”, finaliza. (Com assessoria)